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Thaipusam, o Festival Hindu mais Doido de Singapura

Sandália de pregos. O detalhe que faz toda a diferença. Foto: David Mattatia

Se você estiver vindo diretamente do mundo ocidental para a Ásia em busca de algo realmente surpreendente, o Thaipusam é um daqueles momentos de choque cultural que você tanto ansiava (ou não).

Nunca ouviu falar de Thaipusam?

Saiba que este é o festival hindu mais chocante de Singapura e só perde mesmo em importância para o Deepavali (ou Diwali), que é celebrado de forma quase unânime pela maioria dos indianos no país.

O que é Thaipusam? 

De forma resumida, o Thaipusam é um festival hindu celebrado pela comunidade Tâmil em países como Índia, Sri Lanka, Malásia, Singapura, Indonésia, Tailândia e Myanmar.

Thaipusam é comemorado na lua cheia de Janeiro/Fevereiro de cada ano. A palavra Thaipusam é derivada do nome do mês, "Thai", e o nome de uma estrela, chamada "Pusam".

Portanto, se por acaso um dia você estiver viajando por estas bandas no começo do ano, definitivamente dê uma olhadinha no calendários cultural dos países citados. Em Singapura, você pode consultar as datas exatas no site oficial do Thaipusam.

Participação Hare-Krishna super animada no Thaipusam de Singapura. Foto: Patti Neves

Para outsiders como nós, o entendimento da história completa do Thaipusam e o significado dos detalhes da celebração é um exercício de difícil compreensão, apesar da boa vontade.

Dessa forma, vamos resumir assim: o Thaipusam consiste na busca do deus Murugan através da oração, da preparação espiritual e finalmente da peregrinação ao longo de uma rota previamente definida, ao mesmo tempo em que os devotos se inflingem cargas e punições, chamados kavadis.

Kavadi significa literalmente "sacrifício a cada passo" em Tâmil.

E para isso muitos dos devotos saem perfurando o corpo, sem dó nem piedade.

Leia também: 5 Mentiras sobre Singapura

Devoto de Murugan na Serangoon Road (Singapura). Foto: David Mattatia

Mas quem é Murugan, afinal?

Se você nunca ouviu falar do Deus Murugan, é porque provavelmente nunca foi à Malásia. Tudo bem, acontece nas melhores famílias.

A imagem abaixo ilustra a maior estátua de Murugan do mundo, localizada em Batu Caves, nos arredores de Kuala Lumpur.

Murugan, o deus da guerra, era filho de Shiva (aquele dos dreadlocks), e da bela Parvati. Era também irmão do não menos famoso Ganesh (o deus Hindu com a cabeça de elefante).

Murugan, o Deus soberano de Batu Caves (Kuala Lumpur). Foto: Patti Neves

No Thaipusam de Batu Caves, os devotos sobem as escadarias e entram na caverna durante a procissão.

Em Singapura, o Thaipusam acontece nas ruas e é de longe a demonstração mais inovadora de criatividade masoquista que já vimos na vida.

Apesar das torturas pesadas, a vibe no templo é sempre muita alegre e às vezes a bateria esquenta tanto que você pode ter a impressão de estar em um barracão de escola de samba. 

Devoto carregando anzóis com limões (Singapura). Foto: Patti Neves

E o que são Kavadis?

Os kavadis são geralmente o que o "turistus fotografus" estava procurando: provas surpreendentes do limite da dor e do sofrimento que humanidade pode se auto-inflingir em nome da fé.

Devoto sendo puxado por colegas no Thaipusam (Singapura). Foto: Fernanda Brocoletti

É verdade que  enquanto muitos devotos irão se limitar aos kavadis mais simples (alguns simplesmente carregam um ou vários potes de leite para doação), os corajosos irão executar toda a procissão (entre 4 e 5 km de distância) com várias formas de metais inseridas pelo corpo.

A combinação mais comum são as agulhas verticais e horizontais transpassadas na língua e bochechas prevenindo o devoto de falar e o forçando a se concentrar no seu esforço.

Mulher com agulha na língua. O balde de leite na cabeça é uma oferenda. Foto: Patti Neves

As impressionantes e coloridas gaiola-kavadis (estruturas decoradas com penas de pavão e sustentadas por agulhas inseridas no thórax e abdômen) também são comuns.

É normal ver participantes em transe ou pulando e dançando, portando kavadis super pesados como se nada estivesse acontecendo.

Detalhe: alguns dos kavadis chegam a pesar 40 Kg.

Leia também:Todos os Eventos Anuais de Singapura

Ouch. Melhor não olhar muito para o bumbum dele. Foto: Patti Neves

Sandálias no melhor estilo faquir, frutas penduradas pelo corpo, potes de leite pendurados com anzóis, carruagens religiosas puxadas por ganchos e piercings de todos os estilos são vistos por toda a parte.

Como o Thaipusam é celebrado?

Procissões são organizadas entre os fiéis, que devem se inscrever e pagar taxas de acordo com os kavadis.

Os devotos começam os trabalhos no templo Sri Srinivasa e depois caminham pelas ruas de Singapura até a destinação final (Sri Thendayuthapanie), onde deixam as oferendas.

Participantes externos são bem vindos, e é comum ver familiares e amigos encorajando a procissão com cânticos e tambores, além de muitos estrangeiros curiosos, pois o festival é sempre aberto ao público.

Finalmente, tudo digno de muita admiração e respeito, afinal ser um devoto de Murugan não é para qualquer um!

Devoto carregando dezenas de mangas penduradas por anzóis. Foto: Patti Neves

Enquanto nós só sabemos os detalhes sobre as festividades em Singapura, supomos que o modus operandi seja mais ou menos semelhante em outras partes da Ásia. 

Thaipusam em Singapura: conselhos práticos

  • A preparação leva a madrugada toda, no templo Sri Srinivasa Perumal

Esse é o lugar onde todos os devotos se preparam para a peregrinação e onde conseguem ajuda para instalar os kavadis.

A concentração antes da procissão é essencial para os devotos, e pode render boas oportunidades de fotos também. 

  • Você deverá se dirigir para lá bem cedo. Esta fase será (provavelmente) a parte mais surpreendente do dia:

Incensos queimando em todos os cantos, músicos ensaiando para acompanhar os devotos e lógico a a maior sessão de perfuração coletiva que você já viu na vida....  

Nós estávamos lá um pouco antes das 6:00 da matina, mas se você consegui madrugar, vá pra lá antes!

Litros de leite para serem oferecido à Murugan. Foto: David Mattatia

  • Normalmente os devotos não se importam de se deixar fotografar

Mas como regra geral, seja respeitoso e peça autorização se não tiver certeza de ter obtido o consentimento por meio de olhares ou gestos.

Não tem coisa mais desagradável do que alguém enfiando uma câmera na sua cara, não é ?  

  • Cuidado ao decidir deixar o templo

Uma vez que você já estiver zonzo com o incenso e o barulho intenso dos atabaques você provavelmente vai querer deixar o templo.

Seja cuidadoso pois dependendo do horário, o lugar vai estar tão abarrotado que provavelmente a organização não te deixar voltar para dentro.

Oh-oh. Aconteceu com a gente. 

  • Siga a procissão no ritmo e aproveite o espetáculo

Neste ponto você terá mais clareza para admirar os kavadis e identificar os diferentes tipos e padrões de tortura.

Devoto carregando um pesado Kavadi. Foto: Fernanda Brocoletti

  • A caminhada vai te levar até a estação de metrô Dhoby Ghaut, perto do Fort Canning

Lá finalmente, no templo Sri Thendayuthapani, as leis básicas da física provavelmente te impedirão de entrar no templo, que a esta altura estará mais lotado do que o inferno na terra (oups). 

Por isso a necessidade de madrugar se você quiser assistir toda a procissão.

  • Para conseguir ver a parte final, onde os devotos descarregam o leite no Deus Murugan

É se plantar logo cedo no Sri Thendayuthapanie (templo de chegada) e tentar fazer a caminhada logo depois no sentido inverso, em direção ao Sri Srinivasa Perumal.

Leia também: Singapura, Onde Comer Bem

Onde ver o Thaipusam em Singapura:

Geralmente o Festival cai em Fevereiro, mas depende do ano.

Não deixe de confirmar as datas corretas no Site Oficial.

Este ano a data caiu na Segunda, 21 de Janeiro de 2019.

  • Sri Srinivasa Perumal (templo de concentração e saída dos devotos):

397 Serangoon Road, 218123 - MRT Farrer Park

  • Sri Thendayuthapanie (templo de chegada da procissão):

15 Tank Rd, Singapore 238065 - MRT Fort Canning ou MRT Dhoby Ghaut

Como se vestir e o que levar?

Se você for entrar no templo, esteja preparado para se vestir adequadamente, e também para entrar descalço.

Vá de chinelos e depois os carregue na bolsa, em um saquinho plástico.

Como o templo pode estar meio sujinho, com restos de leite e oferendas pelo chão, outra boa idéia é visitar o lugar de meias grossas. Assim você não precisa passar o tempo preocupado com o chão.

Roupas cobrindo o colo e os ombros e saias (ou calças) compridas de algodão são ideais.

Esqueça os shortinhos e tops (regra que vale para a maioria dos templos da Ásia de qualquer maneira).

Espero que você tenha gostado do post!

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